Desconectado e insustentável – consequências do sistema educacional brasileiro
22/05/2012 16:05h
O sistema educacional ultrapassado, a ausência de uma política pública permanente que dê prioridade absoluta à educação básica e uma atenção especial ao ensino superior voltado à inovação e à docência, no Brasil, gera graves consequências na dimensão social e econômica. A primeira resulta na falta de mobilidade social das camadas mais vulneráveis e na segunda (resultado da primeira), falta de trabalhadores qualificados desacelerando a economia e prejudicando a competitividade das empresas. O livro do Banco Interamericano de Desenvolvimento, “Desconectados, Habilidades, educação e emprego na América Latina”, traz uma pesquisa com mil e duzentas empresas do Brasil, Argentina e Chile, segunda a qual 80% dos empresários revelaram que seu maior problema de recursos humanos é encontrar jovens que saibam redigir um simples Currículo, ou de comunicar de maneira eficiente um problema a seu superior ou chegar pontualmente ao trabalho. Este estudo mostra que as escolas latino americanas estão totalmente desconectadas do mundo dos negócios, e afirma que “Há uma urgente necessidade não só de enfrentar os problemas da qualidade da educação, mas também a relevância da educação para facilitar a transição dos jovens para o mundo empresarial.” E ressalta que “as habilidades, tanto as do conhecimento quanto as socioemocionais, são fundamentais para o desenvolvimento contínuo de crianças e jovens dentro do sistema educacional e posteriormente no mercado de trabalho.” O BID recomenda que haja um âmbito de intervenção mais amplo na escola que integre o desenvolvimento de habilidades não-cognitivas ou socioemocionais, reformando não só o conteúdo curricular, mas também as práticas pedagógicas com esse objetivo. Sugere a criação de mecanismos que vinculem as escolas ao meio, especialmente ao âmbito produtivo. Propõem a aplicação de sistemas de avaliação e informações aliados às habilidades que se busca desenvolver, não só conhecimentos acadêmicos, mas também habilidades não-cognitivas relevantes para o desenvolvimento no trabalho e na vida. Destaca a importância de professores bem preparados e esquemas de incentivos consistentes com os resultados exigidos pelas metas propostas. Enfatiza a necessidade de uma maior conexão entre os sistemas educacionais e o setor privado. Um lado buscando desenvolver as aptidões cognitivas, de acordo com as necessidades e demandas do mercado; de outro lado desenvolver as aptidões não cognitivas, visando o desenvolvimento pessoal, o relacionamento social e o exercício da cidadania. Se não houver uma política pública permanente, renovada e contemporânea, integrando Estado, família e sociedade, fatalmente o crescimento econômico nacional vai se desacelerar, as desigualdades sociais vão persistir e seremos um pais insustentável.
Denise Souza Costa - Porto Alegre, 22 de maio de 2012
Consultora da UNESCO
Presidente da Comissão de educação da OAB/RS
22/05/2012 16:05h